A tensão entre Estados Unidos e China volta a ganhar força, especialmente após o retorno de Donald Trump à presidência americana. Em meio a esse cenário de incertezas geopolíticas, grandes fabricantes chinesas como Xiaomi, Oppo e Honor parecem estar se preparando discretamente para um futuro que, até pouco tempo atrás, parecia impensável: um ecossistema de smartphones totalmente independente do Google.
Segundo informações divulgadas pelo portal iXBT, a Xiaomi estaria desenvolvendo uma versão alternativa do seu sistema operacional HyperOS 3, projetada para funcionar sem qualquer dependência dos serviços Google. Essa medida não é isolada, mas parte de uma estratégia mais ampla que inclui outras gigantes do setor, como a Huawei e o grupo BBK Electronics — conglomerado que detém marcas como Oppo, Vivo e OnePlus. A ideia seria criar uma espécie de “reserva estratégica” tecnológica para tempos de crise.
A sombra de Huawei continua presente
É impossível discutir essa movimentação sem lembrar do caso emblemático da Huawei. Em 2019, a administração Trump incluiu a fabricante chinesa em sua lista negra, acusando-a de representar uma ameaça à segurança nacional dos EUA. Apesar da gravidade das acusações, nunca foram apresentadas provas concretas.
O contexto sugeria outra motivação: a Huawei havia ultrapassado a Apple em vendas globais e ameaçava a liderança da Samsung no mercado de smartphones. A empresa vinha inovando em ritmo acelerado, com câmeras de ponta e dispositivos tecnicamente superiores. Justamente quando estava prestes a assumir a liderança global, veio o baque das sanções.
A lembrança dos modelos P30 Pro e dos dobráveis da linha Mate ainda está viva — aparelhos que revolucionaram a fotografia móvel e a inovação no design. No entanto, com a retirada abrupta dos serviços do Google, esses dispositivos se tornaram praticamente inviáveis fora da China. Uma coincidência desconfortável ou uma ação estratégica para eliminar um concorrente poderoso?
Rivais que agora se unem por sobrevivência
Diante dessa ameaça real e crescente, o mercado chinês de tecnologia pode estar se reconfigurando. Antigos rivais como Xiaomi, Oppo e Huawei estariam colaborando em um movimento sem precedentes: criar uma base de software capaz de sustentar seus dispositivos sem depender de empresas americanas. Em tempos normais, essa aliança pareceria improvável. Mas, diante da pressão externa, parece uma resposta pragmática e necessária.
Importante destacar que essas empresas não desejam, de fato, romper com o Google. O sucesso global de suas marcas foi impulsionado justamente pelo ecossistema Android completo, com acesso à Play Store, Gmail, Google Maps e outros serviços populares. Porém, o exemplo da Huawei serviu como alerta: é preciso estar preparado para o pior.
Assim, Xiaomi aposta no desenvolvimento de uma versão de seu HyperOS que possa operar de forma totalmente autônoma. A Oppo segue caminho semelhante com seu sistema ColorOS. Esses sistemas seriam adaptáveis, com ou sem a presença dos serviços Google, funcionando como plano de contingência para uma eventual escalada no conflito comercial.